A população não deve
fazer justiça com as próprias mãos – por Sérgio Siqueira, vereador de
Caruaru-PE.
Como vereador de Caruaru falei na tribuna da Câmara
Legislativa Municipal de Caruaru, dia 16 de fevereiro, sobre algo que vem acontecendo com certa
frequência em nossa cidade, a população reagindo, amarrando e agredindo suspeitos
de assaltos. Em pouco tempo já é o terceiro caso de tentativa de linchamento em
Caruaru.
Não é um problema exclusivo de Caruaru, em muitos locais do
Brasil a população revoltada faz justiça com as próprias mãos. Muitos
desses casos levam os espancados à óbito. As pessoas alegam sua revolta por causa
da sensação se impunidade e insegurança. Mas a nossa população tem que ser mais
racional e respeitar as leis. Não somos um país sem leis. Um país civilizado não será construído com
uma população furiosa, vingativa, com pau, corda e espancamento. O linchamento
não é justiça.
A Constituição garante que qualquer cidadão pode prender uma
pessoa em flagrante delito, mas a polícia deve ser chamada imediatamente. Linchamento
também é crime por lei. E os linchadores são igualmente infratores da lei,
assim igualando-se ao bandido.
Outra coisa, a população tem que se lembrar de algo muito
importante e perigoso. Muitos criminosos têm comparsas, quadrilhas, família e
amigos. E quando pessoas envolvidas em linchamento são identificadas (por
vídeos ou testemunhas) podem sofrer represálias violentas ou mesmo responder à
justiça.
O Estado, a polícia, tem suas dificuldades de estar presente
em todos os lugares. A falta de estrutura mais eficiente para uma maior agilidade em resolver
um problema de violência local pode fazer com que muita gente
"julgue" que pode fazer justiça com as próprias mãos. O povo faz o
papel da polícia, do juiz e do carrasco, condenando imediatamente e castigando
barbaramente. A população não deve combater o crime. Combater o crime é dever
do Estado e das forças de segurança devidamente autorizadas.
Pessoas de bem não podem continuar apoiando esse tipo de
prática. Nossas crianças e adolescente são testemunhas desses tipos de acometimentos, nas ruas ou pelos vídeos nas redes sociais. Isto não é justiça e não deve
ser considerado normal. Na pratica as pessoas também estão cometendo crimes,
quebrando a lei. A prática do linchamento é crime e pessoas identificadas podem
ser presas.
Precisamos falar neste assunto para que a nossa sociedade
seja pacífica. No Brasil tivemos dois casos recentes de grande INJUSTIÇA por causa dessa
cultura de linchamento. Um caso mais próximo, de 2016, foi de um jovem de 26 anos,
em Natal-RN, que foi espancado e amarrado em um poste, após ser confundido com
um assaltante. Ele tinha problemas mentais e estava indo para uma consulta com
o psicólogo.
Outro caso que chocou o país foi uma mulher, DONA DE CASA,
linchada e morta, em 2014, na cidade do Guarujá-SP. O linchamento aconteceu após um BOATO,
uma foto divulgada nas redes sociais (um retrato falado), a qual dizia que a mulher sequestrava crianças
e utilizava em rituais de magia negra. Um dos linchadores foi preso, julgado e
condenado a 30 anos de prisão. No
julgamento, a Justiça determinou que o rapaz terá que cumprir 30 anos de prisão
e pagar uma indenização de R$ 550 mil à família da vítima. Ele foi condenado
por homicídio triplamente qualificado, quando fica caracterizado que o crime
possuiu requintes de crueldade, a vítima não teve chances de se defender e
ainda foi torturada. A dona de casa deixou duas filhas pequenas.
Não são raros BOATOS NA INTERNET, e se a população quiser fazer
justiça com as próprias mãos, além de cometer um crime bárbaro de
linchamento, ainda mata INOCENTES. Pense nisto. Se acontecer da
população capturar um suspeito, chame imediatamente a polícia, mesmo que o capturado seja
culpado. Temos leis, temos justiça, temos polícia, temos prisão. Não vamos nos igualar ao
criminoso. Tenhamos uma cidade que respeite a ordem e a justiça. Não incentive esta cultura.
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